11 de jul. de 2009

O que é o amor?

Temos a mania de achar que amor é algo que se busca. Buscamos o amor nos bares, na internet, na parada de ônibus. Como num jogo de esconde-esconde, procuramos pelo amor que está oculto dentro das boates, nas salas de aula, nos teatros. Ele certamente está por ali, você quase pode sentir o seu cheiro, precisa apenas descobri-lo e agarrá-lo o mais rápido possível, pois lhe ensinaram que só o amor constrói, só o amor salva, só o amor traz felicidade.

Amor não é medicamento. Se você está deprimido, histérico ou ansioso demais, o amor não se aproximará. Caso o faça, vai frustrar sua expectativa, porque o amor quer ser recebido com saúde e leveza. Ele não suporta a idéia de ser ingerido de quatro em quatro horas, como um antibiótico para combater as bactérias da solidão e da falta de auto-estima.

Você já ouviu muitas vezes alguém dizer: Quando eu menos esperava, quando eu havia desistido de procurar, o amor apareceu. Claro, o amor não é bobo, quer ser bem tratado, por isso escolhe as pessoas que, antes de tudo, tratam bem de si mesmas. O amor, ao contrário do que se pensa, não tem que vir antes de tudo. Ele não é uma garantia de que, a partir do seu surgimento, tudo o mais dará certo.

Queremos o amor como pré-requisito para o sucesso nos outros setores, quando, na verdade, o amor espera primeiro você ser feliz para só então surgir diante de você sem máscara e sem fantasia. É esta a condição. É pegar ou largar. Para quem acha que isso é chantagem, arrisco sair em defesa do amor: Ser feliz é uma exigência razoável e não é tarefa tão complicada.

Felizes são aqueles que aprendem a administrar seus conflitos, que aceitam suas oscilações de humor, que dão o melhor de si e não se auto-flagelam por causa dos erros que cometem. Felicidade é serenidade...
Não, não tem nada a ver com piscinas, carros e muito menos com príncipes encantados. O amor é o prêmio para quem relaxa!

Este belo texto me foi ofertado por uma amiga...

Ps. Há preciosas informações sobre este tema em: Do Amor - Ensaio de Enigma, de Artur da Távola: Editora Nova Fronteira.

8 de jul. de 2009

Pensar a vida, saltar o Abismo

Pensar a vida, saltar o Abismo
Dulce Critelli, professora de Filosofia da PUC/SP.

Há poucos dias, ao final de uma palestra de filosofia, um rapaz me procurou dizendo que tinha sido sua dor o que o levara até lá. Sentia-se confuso e perdido na própria vida. Buscava uma palavra que lançasse luz sobre sua existência, que lhe indicasse uma saída, insinuasse como sua vida poderia ganhar sentido. O que lhe doía, simplesmente, era ser.

Quantas pessoas já não me disseram o mesmo! Assistem a conferências e a aulas de filosofia para pensar a vida. É uma atitude interessante, justamente porque a filosofia tem a fama de só tratar de questões abstratas e, por isso mesmo, de ser inútil. Também Heidegger, esse grande pensador contemporâneo, concorda que, com a filosofia, não podemos fazer nada, como construir uma ponte ou uma estrada. E, no entanto, considera, é a filosofia que faz alguma coisa conosco.

Acho que é isso o que as pessoas esperam que, ajudando-as a compreender melhor a existência, a filosofia mexa com elas e, então, possam vencer essa dor de ser. Elas não querem tratar das dificuldades e dos problemas imediatos, mas do sentido da vida.

Todos nós já sentimos essa dor de ser e, vez ou outra, com uma intensidade quase insuportável. Sentimo-nos estrangeiros em nossa própria vida. Sentimo-nos em dívida com nós mesmos. Um vazio nos invade. Nossa existência perdeu o significado. Não sabemos mais quem somos nem quem podemos ser. Queremos que alguém nos explique o viver! Que alguém nos explique quem somos e a que viemos!

A dor de ser faz parte da nossa natureza. Não agüentamos apenas ser, temos de ser nós mesmos. Não queremos repetir ninguém nem que ninguém nos copie. Também não nos basta que os outros aprovem nossa vida. É preciso que ela faça sentido para nós mesmos.

Essa dor sentida é, no entanto, apenas uma face da moeda; a outra, em que mal reparamos, é a de uma bem-aventurança. Se podemos sentir a dor de nos ter perdido de nós mesmos, é porque temos o poder de nos encontrar novamente. O que nos angustia e nos deixa aturdidos nessa historia é que, para esse individuo exclusivo que somos e para o sentido pessoal de nossas vidas, não há nenhuma referência possível. Os modelos culturais e as pessoas com quem convivemos podem nos inspirar, mas apenas isso. O resto é conosco. Temos de ser ao mesmo tempo os autores, os atores e os juízes de nosso próprio existir.

A certeza de que morreremos, mas sem saber quando, é o que muitas vezes nos empurra para essa tarefa sem referências de tomarmos nas mãos o nosso destino, a nossa história exclusiva, e de emprestarmos para a vida a nossa própria cara.

Temos pouco tempo. E tudo é risco, é aposta. É passo sobre o abismo. Que exige coragem. E preparação. Essa preparação é tarefa do pensar, da reflexão. O que a filosofia pode fazer conosco é isto: ensinar-nos a pensar. E conhecer esse “segredo” já é meio caminho andado.

Pensar (ou refletir) não é perder-se em elucubrações, análises, cálculos, infindáveis relações. Ao contrário, é estancar esse tráfico incessante de palavras e idéias em que nos atolamos e penetrar naquilo que ainda é invisível e desconhecido para nós, trazendo-o para a luz.

Pensar começa por parar (o tráfego de idéias) para pensar. Quando paramos para pensar, podemos nos observar e flagrar quais medos, fantasias, crenças e preconceitos nos têm influenciado. Flagrando-os, nós interrompemos o seu fluxo e domínio que vinham tendo sobre nós. Eles emudecem. Silenciam. E nós mesmos entramos em silêncio. E é só quando ficamos silenciosos que começamos a nos ouvir. A ouvir a voz que vem lá das nossas profundezas, sábia, revelando o sentido de nossa vida, o caminho, o gesto necessário. Enchendo-nos de coragem para o passo sobre o abismo. Transformando a dor em bem-aventurança, em vontade, em decisão. Descobrindo nosso próprio poder. Preparando-nos para ir ao enlaço de ser quem só nós mesmos podemos ser e de viver como só nós mesmos podemos viver.