17 de ago. de 2010

Façam suas ações refletirem as suas palavras

Discurso de Severn Suzuki, da Organização das Crianças em Defesa do Meio Ambiente, durante a ECO 92, realizado no Rio de Janeiro. Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento.


Na íntegra.

Olá, sou Severn Suzuki. Represento a eco, a organização das crianças em defesa do meio ambiente. Somos um grupo de crianças canadenses, de 12 a 13 anos, tentando fazer a nossa parte, contribuir. Todo o dinheiro que precisávamos para vir de tão longe, conseguimos por nós mesmos, para dizer que vocês, adultos, tem que mudar o seu modo de agir.
Ao vir aqui hoje, não preciso disfarçar meu objetivo: estou lutando pelo meu futuro. Não ter garantia quanto ao meu futuro não é o mesmo que perder uma eleição ou alguns pontos na bolsa de valores. Estou aqui para falar em nome das gerações que estão por vir. Estou aqui para defender as crianças com fome, cujos apelos não são ouvidos. Estou aqui para falar em nome dos incontáveis animais morrendo em todo o planeta porque já não tem mais para onde ir.

Não podemos mais permanecer ignorados. Hoje tenho medo de tomar sol por causa dos buracos na camada de ozônio, tenho medo de respirar esse ar porque não sei que substâncias químicas o estão contaminando.
Eu costumava pescar em Vancouver com meu pai até o dia em que pescamos um peixe com câncer. Temos conhecimento de que animais e plantas estão sendo destruídos a cada dia e em vias de extinção. Durante toda minha vida eu sonhei ver grandes manadas de animais selvagens, selvas, florestas tropicais repletas de pássaros e borboletas mas, agora, eu me pergunto se meus filhos vão poder ver tudo isso.

Vocês se preocupavam com essas coisas quando tinham a minha idade?

Todas essas coisas acontecem bem diante dos nossos olhos e, mesmo assim, continuamos agindo como se tivéssemos todo o tempo do mundo e todas as soluções. Sou apenas uma criança e não tenho as soluções mas, quero que saibam que vocês também não têm.

Vocês não sabem como reparar os buracos na camada de ozônio. Vocês não sabem como salvar os salmões das águas poluídas. Vocês não podem ressuscitar os animais extintos. Vocês não podem recuperar as florestas que um dia existiram, onde hoje, é deserto. Se vocês não podem recuperar nada disso, então, por favor, parem de destruir!
Aqui, vocês são os representantes de seus governos, homens de negócios, administradores, jornalistas ou políticos, mas, na verdade, são mães e pais, irmãos e irmãs, tios e tias, e todos também são filhos. Sou apenas uma criança, mas, sei que todos nós pertencemos a uma sólida família de 5 bilhões de pessoas e ao todo somos 30 milhões de espécies compartilhando o mesmo ar, a mesma água e o mesmo solo. Nenhum governo, nenhuma fronteira poderá mudar esta realidade. Sou apenas uma criança, mas sei que esse problema atinge a todos nós e deveríamos agir como se fossemos um único mundo rumo a um único objetivo.

Apesar da minha raiva, não estou cega, apesar do meu medo, não sinto medo de dizer ao mundo como me sinto. No meu país, geramos tanto desperdício, compramos e jogamos fora, compramos e jogamos fora, e os paises do norte não compartilham com os que precisam. Mesmo quando temos mais do que o suficiente, temos medo de perder nossas riquezas, medo de compartilhá-las. No Canadá, temos uma vida privilegiada com fartura de alimentos, água e moradia. Temos relógios, bicicletas, computadores e aparelhos de tv. Há dois dias, aqui no Brasil, ficamos chocados quando estivemos com crianças que moram nas ruas. Ouçam o que uma delas nos contou: "eu gostaria de ser rica e, se fosse, daria a todas as crianças de rua, alimentos e roupas, remédios, moradia, amor e carinho".
Se uma criança de rua que não tem nada ainda deseja compartilhar, por que nós que temos tudo somos ainda tão mesquinhos? Não posso deixar de pensar que essas crianças tem a minha idade e que o lugar onde nascemos faz uma grande diferença. Eu poderia ser uma daquelas crianças que vivem nas favelas do Rio de Janeiro. Eu poderia ser uma criança faminta da Somália. Uma vitima da guerra do Oriente Médio, ou uma mendiga da Índia.
Sou apenas uma criança, mas ainda assim sei que, se todo o dinheiro gasto nas guerras fosse utilizado para acabar com a pobreza, para achar soluções para os problemas ambientais, que lugar maravilhoso a terra seria!

Na escola, desde o jardim de infância, vocês nos ensinaram a sermos bem comportados, vocês nos ensinaram a não brigar com os outros. Resolver as coisas bem. Respeitar os outros. Arrumar nossas bagunças. Não maltratar outras criaturas. Dividir e não ser mesquinho. Então, por que vocês fazem justamente o que nos ensinaram a não fazer?
Não esqueçam o motivo de estarem assistindo a estas conferências. E para quem vocês estão fazendo isso. Vejam-nos como seus próprios filhos. Vocês estão decidindo em que tipo de mundo nós iremos crescer. Os pais devem ser capazes de confortar seus filhos dizendo-lhes: “tudo ficará bem...”. “Estamos fazendo o melhor que podemos.” Mas não acredito que possam nos dizer isso. Estamos sequer na sua lista de prioridades?
Meu pai sempre diz: “você é aquilo que faz... não aquilo que você diz”...
Bem, o que vocês fazem, nos fazem chorar a noite.
Vocês, adultos, nos dizem que vocês nos amam.
Eu desafio vocês.
Por favor... façam suas ações refletirem as suas palavras.

16 de ago. de 2010

O que podemos conhecer?

Escher (Relatividade)


A primeira impressão diante de uma obra de Escher é de estranhamento, mas também de ludicidade, porque o artista brinca com nossa percepção. O que nos faz pensar: Será que tudo o que vejo é mesmo real? E se tudo for uma ilusão de meus sentidos? Convivo com pessoas que pensam de modo tão diferente de mim, como se vivessem em outra realidade. O que é real? Qual a garantia de que a realidade não seja um sonho? Já tive certezas tão arraigadas e que se dissolveram com o tempo: teria eu caído em erro? E agora, estaria certo? Quais são as garantias de minhas certezas?

BIBLIOGRAFIA.

ARANHA, M. Lúcia de Arruda, MARTINS, M Helena Pires. Filosofando. 2.ed. São Paulo: Moderna, 1993.