3 de jul. de 2010

Sartre - A CONSCIÊNCIA

A consciência

a) Distância a si.

Já o fato mesmo de um homem como Roquentin ser capaz de emitir um juízo sobre o Ser demonstra que, de um modo muito especial, ele não é exatamente como o Ser. Há uma diferença de qualidade que separa a sua consciência das coisas. O Ser rege-se pela identidade de si a si, sem relação interna possível. Sendo algo que se auto-ignora, não tem consciência. A consciência, ao contrário, é essa propriedade que o Ser não possui de pensar sobre as coisas, exprimir juízos sobre elas, interrogar a respeito delas e de si mesmo, colocando em questão o seu próprio ser.

Para caracterizar melhor essa propriedade, podemos recorrer a uma metáfora. Tento descobrir a significação de uma pintura aproximando os olhos da superfície da tela. Nesse caso, nada consigo ver. Em seguida, tomo um recuo que me permita abarcar o quadro com o olhar. Da mesma maneira como (em termos de espaço físico) preciso me afastar do objeto a ser percebido exatamente para poder percebê-lo, também a consciência precisa recuar de algum modo diante do objeto visado para ser consciente dele.

É como se a consciência se colocasse a certa distância do mundo das coisas a fim de estar em condições de presenciá-las. Embora uma das determinações fundamentais da consciência seja a de estar no mundo, atrelada ao Ser, a consciência não se identifica literalmente com ele, como se fosse coisa entre coisas. Está, sim, em presença dele, colocada à distância dele. Sartre tirou essa concepção da consciência das conclusões de Heidegger em Ser e Tempo: o homem não está "no meio" do mundo, mas "em presença" dele, "frente" a ele. Heidegger diz que o homem é o "Ser das lonjuras", o único Ser que ex-siste (com o prefixo ex indicando afastamento).

Tudo se passa como se o Ser, perdendo a sua solidez, sofresse uma fissura ou descompressão interna, um desgarramento de si, uma não-coincidência consigo - e, já como consciência viesse a se pôr à distância, em "outro lugar" que não o seu eterno repouso. É o que Sartre denomina "a única aventura possível do Ser". Única porque, ao fazer-se consciência, o Ser perde-se como uno e positivo, a identidade de si a si desagrega-se. Tornado consciência, o Ser já não é "totalmente si", mas uma "presença a", uma "distância a". Sua plena identidade cede lugar a uma relação - a relação que a consciência mantém de si para si mesma.

Sartre usa então a expressão Em-si para designar o Ser, compreendendo a realidade material, o mundo inorgânico dos objetos e o organismo humano: é porque o Ser está fechado em si, preso a si mesmo. O Em-si designa tudo o que existe, exceto a consciência humana. Sartre chama a consciência de Para-si, pois se trata de uma relação de si para si. O Para-si (expressão que define a consciência como distância ao Ser) sugere o que seria uma degeneração, uma "doença" do Ser": é o Ser que experimenta uma desorganização interna, rompe-se e se descola de si. O fenômeno metafísico da consciência representa o contrário do princípio da conservação da energia, no plano físico: se um único átomo que constitui o universo fosse destruído, seguir-se-ia uma catástrofe em cadeia que se estenderia à destruição da Terra e dos sistema solar.
Quando o Em-si se rompe para converter-se em Para-si, ocorre não a destruição, mas a "aparição" mesma do mundo: a consciência faz com que o mundo surja diante dela como existente.

Vimos que o Em-si não se reduz à sua aparição à consciência, não necessita do Para-si para existir, mas precisa do Para-si para existir enquanto aparição ou fenômeno (assim como não preciso de um espelho para existir, mas para aparecer a mim). A consciência é que faz com que o Ser "se mostre". Ela não cria o mundo: apenas o constata. Da mesma meneira, é a consciência que traz interrogações ao mundo e coloca os porquês. Sendo assim, não se pode saber com certeza por que há o Ser, ou por que o Para-si surge a partir do Em-si: as indagações desse tipo aparecem (já) com o Para-si. Quando interrogamos o Ser, ele já está aí, diante de nós. (O máximo que se pode dizer, em uma metáfora, é que o Em-si tenha se tornado consciência na tentativa de ser responsável pelo que é, ou seja, fundamento de si mesmo, causa de si, criador de si.)

BIBLIOGRAFIA

PERDIGÃO, Paulo. Existência & Liberdade. Uma Introdução à Filosofia de Sartre. Porto Alegre: L&PM. 1995, p.38 e 39.

2 de jul. de 2010

Morte: um fato contingente

L’être et le néant
O ser e o nada

Assim, devemos concluir, contra Heidegger, que a morte, longe de ser minha possibilidade própria, é um fato contingente que, enquanto tal, escapa-me por princípio e pertence originariamente à minha facticidade. Eu não poderia descobrir minha morte, nem esperá-la, nem tomar uma atitude com relação a ela, visto ser aquilo que se revela como o irrevelável, aquilo que desarma toda as esperas e que penetra em todas as atitudes, particularmente as que adotamos a seu respeito, para transformá-las em condutas exteriorizadas e coaguladas, cujo sentido é para sempre confiado a outros que não nós mesmos. A morte é um puro fato, como o nascimento; chega-nos de fora e nos transforma em lado de fora puro. No fundo, não se distingue em absoluto do nascimento, e é tal identidade entre nascimento e morte que denominamos facticidade.

SARTRE, Jean-Paul. O ser e o nada: ensaio de ontologia fenomenológica. 4. ed. Petrópolis: Editora Vozes, 1997. p. 668



Jean-Paul Sartre
(1905-1980)

(+) Um fragmento da obra de Sartre, A Náusea, que ilustra o termo Facticidade foi postado dia 23/06.

1 de jul. de 2010

A Noite: Figuras da Escuridão

A Noite
Figuras da Escuridão

Quando termina o dia e as trevas descem sobre as cidades e os campos, vêm à tona todos os tipos de criaturas malignas, reais ou imaginárias.

Por Jean Verdon

Os homens da Idade Média sofriam de insônia. Os ansiosos acordavam várias vezes durante a noite. E tinham pesadelos. A semelhança aparente entre o sono e a morte perturbava. Especialmente porque, nos séculos XIV e XV, a noite podia ser fonte de perigos bem reais, provenientes da guerra.
Junto com esses perigos, estavam os medos criados pelas histórias de seres diabólicos, almas de outro mundo, lobisomens, feiticeiras e até aqueles presentes nos que sofriam de sonambulismo. Sem dúvida, um caldeirão de temores criados pela imaginação, que ganhavam ainda maior destaque e efeitos quando reforçados pela escuridão real que a noite da Idade Média proporcionava.

Na Idade Média, a noite era identificada ao Mal: se Deus é luz, as trevas só podem ser o domínio do Maligno. Numa epístola que incitava os efésios a vestir a armadura de Deus, Paulo dizia a eles que deviam lutar "contra os Principados, contra as Forças, contra os Regentes deste mundo de "trevas". Trevas que reinavam, então, nas ruas das cidades, já que, salvo raras execeções, elas não eram iluminadas.
Os medos noturnos também eram avivados por outros elementos. A visão dos astros apresentava ao homem um espaço do qual ele não tinha consciência durante o dia. E o situava em um universo cuja inquietante infinitude podia pressentir então com mais nitidez. Por isso, não surpreende que os homens experimentassem terrores noturnos: terrores imaginários, mas terrores também decorrentes dos perigos próprios à epoca.

Diabos, espíritos e feiticeiras

Diabos, espíritos e feiticeiras tinham ligações estreitas com a noite. Heinrich Buschmann, morto havia 40 anos, teria aparecido diversas vezes a seu neto Arndt, em 1437 e 1438. Como este lhe perguntasse por que vinha à noite, em vez de vir durante o dia, Heinrich teria respondido: "Enquanto eu não puder ir até Deus, permanecerei na noite. É por isso que apareço com mais freqüência  na escuridão do que durante o dia claro".
Em 1214, Gervase de Tilbury afirmou em O livro das maravilhas: "Eu conheço mulheres de idade avançada, residentes nas cercanias, que me disseram ter visto, à noite, seus jovens empregados e empregadas numa nudez indecente. Também contaram o que faziam na escuridão, bem longe dali. Por vezes, curavam nossas crianças de flagelos invisíveis. E afirmaram que, enquanto seus maridos dormiam, elas sobrevoavam o mar e corríam o mundo. Se alguém, durante o percurso, pronunciasse o nome de Cristo, caía imediatamente, onde quer que fosse e sob qualquer risco. Nós sabemos que algumas mulheres, vistas à noite sob a forma de gatos, e feridas por pessoas que as espreitavam, apresentaram, no dia seguinte, ferimentos e membros mutilados".

Robert de Boron
A história de Merlin, séc.XIII


O maligno aparece freqüêntemente em obras literárias ou narrativas da Idade Média. Ele é o tentador por excelência. E, numa sociedade na qual a imaginação tinha um papel importante, não surpreende que assumisse formas assustadoras para os que o temiam. Justamente em função desse temor, pensavam tanto nele que o viam aparecer até mesmo em circunstâncias banais.
Se, no início da Idade Média, Satã tinha um papel discreto, os séculos X e XI foram um período de demonização. Porém, ao mesmo tempo que assustava, o Diabo também seduzia -- leis-se divertia. No século XIV, ao contrário, num clima mais pesado, o diabólico cresceu. O Inferno e seu senhor, Lúcifer, eram descritos cada vez com maior precisão. As visões das penas sofridas pelos danados devem ter assombrado, por mais de um noite, os que sofriam de insônia.
Dentre os agentes de Satã, figuravam em especial os íncubos, demônios lascivos que tinham fama de violar as mulheres enquanto elas dormiam (Veja imagem). E havia também as diabas, chamadas súcubos, que se uniam aos homens à noite. Em uma famosa obra de demonologia, O martelo das feiticeiras, foram postas em cena mulheres que representavam o mal, distinguindo-se as que se submetiam aos íncubos de espontânea vontade daquelas que interagiam com eles sem querer. E, finalmente, das inocentes, que suportavam o assédio desses demônios.

A lua e os lobisomens

Gervase de Tilbury escreveu: "Eu sei que todos os dias acontece algo nestas paragens, pois este é o destino da raça humana. Alguns homens se transformam em lobos, dependendo da fase da lua. Na verdade, sabemos que, em Auvergne, o nobre Pons de Capitol deserdou Raimbaud de Pouget, um cavaleiro bravo e valente. É que este passou a errar e vagabundear pela região, assombrando caminhos mais escondidos e bosques, solitário como um animal selvagem. Certa noite, sob a influência de um terror excessivo que provocou uma alienação de seu espírito, ele se transformou em lobo. Isso foi um imenso flagelo para a região, a ponto de muitas casas ficarem desertas. As criancinhas, ele as devorava como se fosse um lobo. Os adultos, fazia em pedaços, com mordidas selvagens. Por fim, gravemente ferido por um lenhador, perdeu um pé, cortado a machadada, e recuperou sua forma humana". Durante a noite, dizia-se, as almas das pessoas mortas manifestavam-se algumas vezes de forma física. Enquanto na Alta Idade Média os espíritos eram raros, houve, a partir dos séculos XI e XII, uma mudança. Eles apareciam tanto nos sonhos como durante a vigília, sozinhos ou em bandos intermináveis. Um sermão do século XV fala de um padeiro que tinha morrido e voltava, à noite, para ajudar a mulher e os filhos a fazer o pão. Assustados, estes fugiram, mas o vizinhos quiseram ver o espírito do morto. A abertura da tumba permitiu então que se constatasse que o defunto estava lá, coberto de lama. Apesar de a vala estar cheia, o padeiro reaparecia.
Havia vária maneiras de representar os espíritos dos mortos, algumas vezes como fantasmas. Uma tradução do Decamerão, oferecida a Carlos VI em 1414, tem uma dessas ilustrações. São duas imagens: uma, de dois amigos sentados à mesa, prometendo-se que o primeiro que morresse voltaria para ver o outro. Um deles, que tinha praticado sexo com sua comadre, morrreu logo depois e apareceu ao amigo. Este, acordado, é representado em sua cama. O espírito do morto, semi-escondido, apresenta o corpo esquelético, coberto com um lençol branco. Seus traços correspondem aos de um homem que teria envelhecido muitas décadas em poucos dias.

Naquela época, acreditava-se que as feiticeiras mantinham relações privilegiadas com Satã, ligações que se concretizavam durante o sabá. Até o século XIII, a Igreja não condenava com severidade tais superstições. Mas, pouco a pouco, inquisidores e juízes leigos passaram a reprovar a feitiçaria, sobretudo a partir do século XV. A imagem do feiticeiro - e com maior freqüência a da feiticeira - integrou-se ao imaginário coletivo com características específicas: pacto com o Diabo; encontros durante os sabás; vôos noturnos montadas em animais ou em cabos de vassoura.

Pode acontecer que a angústia que sufoca quem dorme se traduza em atos dos quais a pessoa não tenha consciência. Por exemplo, nos casos de sonambulismo. Em 1388, quando o poeta e cronista Jean Froissart estava na corte de Gaston Phebus, conde de Foix e Béarn, um escudeiro lhe contou a surpreendente história de Pierre de Béarn, irmão bastardo de Gaston. Como Froissart lhe perguntasse por que aquele senhor não era casado, ouviu a resposta que, sim, era casado, mas que sua esposa e seus filhos o tinham deixado porque era sonâmbulo. À noite, ele se levantava, mesmo adormecido, pegava uma espada e lutava no vazio. Se não encontrasse a espada, fazia tamanho escândalo "que todos os diabos do inferno pareciam estar com ele".

Observemos que a Idade Média não era desprovida de meios para lutar contra as dificuldades do sono. Em particular, fazia-se uso de ópio e das solanáceas, como a mandrágora, o meimendro e a beladona.

Risco de Incêndio

Na época da Guerra dos Cem Anos havia perigos bem reais, que podiam, efetivamente, tumultuar as noites dos habitantes. Em 1412, o duque de Orléans tomou a ponte de Saint-Cloud da seguinte maneira. Um amigo responsável pela guarda da ponte, descontente por ter sido substituído, deu um jeito de que não houvesse vigilância noturna. Aproveitando-se da situação, um cavaleiro e 300 homens entraram e atacaram os guardiões e os moradores, que, despreparados para aquilo, acordaram de sobressalto e não puderam resistir.
A noite era temível também porque facilitava os incêndios. Em setembro de 1414 teve início um incêndio noturno no acampamento militar real. O fogo se propagou nos barracões de madeira, e, passando de tenda em tenda, acabou por atingir a parte traseira dos aposentos do rei, que foi para um local seguro. Porém, muitos doentes não puderam fugir e morreram em meio às chamas.

Jean Verdon é autor de La nuit au Moyen Âge (A noite na Idade Média, Perrin, 1993)

BIBLIOGRAFIA

Revista História Viva. Grandes Medos da Idade Média. Ano IV - Nº 38 - Dezembro de 2006 - Duetto Editorial. Páginas, 52 a 55.

30 de jun. de 2010

Filme: Vício maldito

Filme
Days of wine and roses

(Kirsten) Aquela bebida com conhaque me fez sentir bem. "Pegue os botões de rosa enquanto puder". "Eles não são longos, os dias de vinho e rosas. De dentro de um sonho enevoado, nosso caminho emerge por um tempo e depois se encerra num sonho".

As palavras da personagem, Kirsten, já logo no princípio do filme, nos indica a triste trajetória do bebedor compulsivo.

Joe Clay (Jack Lemmon) é um relações públicas que mora em São Francisco. E a senhorita Kirsten Arnesen (Lee Remick), uma secretária de um figurão que Joe presta serviços, irão se conhecer. Já no primeiro encontro eles irão beber... casar, beber, ter uma filha chamada Debbie, beber e beber.

Kirsten que não fazia uso de bebida alcoólica experimentou o seu primeiro gole na companhia de Joe. Oferecido por ele, aquele Brandy Alexander irá despertar nela o desejo por muitos outros goles e diferentes bebidas.


Cenas do filme "Vício Maldito"
O primeiro encontro e gole.


Joe que passa a sair sozinho em função de Kirsten ter que tomar conta da filha, continua bebendo. Na seqüência da cena, começam as pequenas discussões e episódios de violência. Em uma cena, após chegar em casa, alterado, Joe discute e cobra da esposa a parceria que eles tinham nos goles, o que era, comum, antes dela se tornar mãe. E Kirsten entendeu o recado.

Seqüência de cenas:

- Joe chega em casa e ela já o acompanha nas bebidas;
- Ela já bebe sem ele;
- Kirsten acende um cigarro, bebe excessivamente e acaba incendiando o apartamento;
- Ela, com o copo na mão, o culpa por passar tempo demais fora da cidade trabalhando.

Obs.: Ela já perdeu o controle sobre a bebida, mas, ainda não sabe.

Cenas do filme "Vício Maldito"


Nas cenas seguintes, Joe diz a Kirsten ser um bêbado e que as constantes trocas de emprego seriam decorrentes do consumo excessivo de bebida.

Eles se mudam para a casa do pai de Kirsten; Joe começa a trabalhar para o sogro.

Dois meses sóbrios se passam, até que Joe propõe um gole (um "golinho") para comemorar. Eles perdem o controle. A bebida acaba. Joe sai para buscar outra garrafa. Não achando a garrafa que havia escondido dentro de um dos vasos do sogro, Joe começa a revirar todas as plantas  do local. Em poucos minutos a bagunça esta feita. Ele se descontrola ao caminhar, cai na chuva, se levanta, começa a destruir tudo e se perguntando: Aonde? Aonde? Fui roubado! Quem pegou? Joey cai no choro e no chão, até que vê em um dos vasos quebrados a garrafa. E ela atordoada pelo mesmo motivo, vai acordar, sorridente e brincalhona o pai.


Cenas do filme "Vício Maldito"
A comemoração...
o resultado.



No episódio seguinte, Joe aparece contido por uma camisa de força, se debatendo no chão, suando e emitindo sons incompreensíveis em uma instituição psiquiátrica. Não conseguindo se acalmar e tentando morder os enfermeiros, ele acaba sendo sedado.
Obs.: Cena forte e comum nos hospitais psiquiátricos.

Na seqüência, aparece outro personagem na porta da cela em que Joe estava e, se apresenta como sendo de ALCOÓLICOS ANÔNIMOS. Ele diz - "A enfermeira me falou que você precisava de ajuda!"

Resistente no começo, Joe começa a participar das reuniões de A.A.
Obs.: É comum no princípio o alcoólatra se recusar a participar das reuniões e, principalmente, a admitir que tem problema com a bebida.

Preâmbulo de A.A. é lido.
Preâmbulo de AA

ALCOÓLICOS ANÔNIMOS é uma irmandade de homens e mulheres que compartilham suas experiências, forças e esperanças, a fim de resolver seu problema comum e ajudar outros a se recuperarem do alcoolismo. O único requisito para se tornar membro é o desejo de parar de beber. Para ser membro de A.A. não há necessidade de pagar taxas ou mensalidades; somos auto-suficientes, graças às nossas próprias contribuições. A.A. não está ligada a nenhuma seita ou religião, nenhum partido político, nenhuma organização ou instituição; não deseja entrar em qualquer controvérsia; não apóia nem combate quaisquer causas. Nosso propósito primordial é mantermo-nos sóbrios e ajudar outros alcoólicos a alcançarem a sobriedade.

Cenas do filme "Vício Maldito"
Na hospital e em A.A.


Mas o último gole de Joe ainda teria que esperar mais uma cena. Kirsten que continua na trilha do álcool fica incomodada com o fato de seu marido não beber, e, não mais a acompanhá-la. E ele toma uma dose com ela. E a garrafa se esvazia. Sai embriagado do quarto, tropeçando nos próprios pés e caminha até a loja de bebidas mais próxima. Chegando lá, encontra a loja já fechada. Joe começa a implorar para o dono abrir. Não sendo atendido, ele arromba a porta, pega uma garrafa, mas, ao sair, tropeça e cai. O dono do estabelecimento o aborda, ainda no chão, e lhe pergunta: "Você gosta de bebida, não é"? O dono abre a garrafa e derrama o líquido encima de Joe, regado a muitas gargalhadas.

Na cena seguinte, Joe está novamente no hospital psiquiátrico, com alucinações e bastante agitado.

Joe volta a se encontrar com o sogro, carinhosamente apelidado por Pop. Eles conversam e Joe tenta começar a reparar os danos causados no passado.*

Na cena final, Joe e Kirsten voltam a se encontrar. Ela lhe diz que já está "sóbria" a dois dias e que não estava sendo fácil. Mas, que precisava da bebida para não ver o aspecto sujo das coisas.

E se foi.
* Nono Passo de A.A.
"Fizemos reparações diretas dos danos causados a tais pessoas, sempre que possível, salvo quando fazê-las significasse prejudicá-las ou a outrem."

[Fim]

________________________________________________________________________

Conhece alguém com problemas de alcoolismo?
Procure a central de A.A. de sua cidade!
Em Belo Horizonte: Av.dos Andradas, 302
Sala 521 - Fone (31) 3224-7744
A Família de um bebedor está precisando de ajuda?
Procure o Al-Anon.

Eu sou amigo de A.A.
Cleiton.

29 de jun. de 2010

Filme: O Nome da Rosa

Em O Nome da Rosa, misteriosas mortes acontecem dentro de uma Abadia. William, personagem vivido por Sean Connery é chamado para tentar solucionar.

Separei os fragmentos abaixo.
Abs.
Cleiton.

O cotidiano de um mosteiro medieval: Dentro da Abadia (comunidade cristã) os horários são bem definidos para trabalhos, estudos, alimentação, descanso, orações.

Ordens monásticas: Franciscanos: Seria o religioso da ordem fundada por são Francisco de Assis.
Dominicanos: Relativo à ordem religiosa fundada por são Domingos.
Beneditinos: Pertence à ordem de são Bento.

Grupos heréticos e suas idéias: Heresia seria uma doutrina ou sistema de interpretação, idéias e práticas que negam ou são contra a doutrina estabelecida. No filme, a presença de um gato preto, um galo preto e uma mulher - bruxa -, seria maldição. Para Bernardo Gui, isso seriam características de um Ritual Satânico.

O perfil dos monges e moradores do local: O perfil dos monges era muito parecido: As vestes, cortes de cabelo e atividades (rituais); os moradores do local eram camponeses; o indivíduo que precisava de algum favor espiritual ou bênção tinha que entregar ao religioso algo em troca (dízimo) como, por exemplo, animais, alimentos etc. Seria uma forma de pagamento pelo serviço.



O Tribunal da Inquisição e suas atribuições: A principal atribuição era restabelecer a ordem e funcionamento nas Abadias, Mosteiros etc. “Acalmar as mentes do meu rebanho. Se não, terei que pedir ajuda à Inquisição”. E quem fosse contra o julgamento de um inquisidor seria culpado de heresia. E a solução para este tipo de comportamento era ser queimado, para purificar.




As características do Sistema Feudal: Sistema característico da Idade Média e que se fundamenta, principalmente, sobre a propriedade da terra. Quem tem a propriedade geralmente é o senhor feudal e, as disponibiliza aos vassalos, em troca de serviços. Os indivíduos que ficam do lado de "fora" dos muros da Abadia seriam os vassalos. Muito pobres e que recebiam restos de alimentos.

O poder Universal da Igreja: "O Papa poderia destruir a nossa ordem, nos declarar hereges se não for resolvido o assunto (sobre as mortes misteriosas)". O poder de abrir e fechar qualquer instituição religiosa conforme os interesses.




Características do pensamento renascentista: No movimento Renascentista, o homem passar a ter a capacidade de se expressar, pois, na era medieval, isso era proibido. Houve um despertar da consciência de si próprio e do universo. A linguagem como forma de se expressar toma força, mas, a arte, teria sido a principal forma do homem se revelar. A impressão de livros e, principalmente, o acesso da população a eles; o que era proibido na Idade Média.

Características do pensamento medieval: Falas de Jorge (Velho cego)
"Conservação do conhecimento. Não da busca do conhecimento".
(Sobre o riso dentro da Abadia) “O riso mata o temor, sem o temor não pode haver fé".
"Sem temer o demônio, não há necessidade de Deus".
"A dúvida é inimiga da fé".
"Um monge deve ficar em silêncio e só deve falar o que pensa quando questionado".



Por quais motivos Aristóteles é mencionado nas discussões ocorridas dentro da biblioteca? Uma obra em especial é citada mais de uma vez - A poética. A doutrina da arte (poesias trágicas ou cômicas etc.) era chamada pelos antigos com o nome de seu próprio objeto, poética, ou seja, arte produtiva, produtiva de imagens. William, assim como o filósofo grego, Aristóteles, utiliza de suas faculdades e inteligência lógica para a investigação. Isso incomodou algumas pessoas na Abadia, pois, "pensar" era proibido e obra do demônio.
Sendo assim, determinadas obras e principalmente as de Aristóteles que mostravam as artes, imagens de corpos nus, poesias etc, ou seja, que poderiam estimular a imaginação do leitor eram trancadas na torre da Abadia e sem a possibilidade de acesso.





[Fim]

28 de jun. de 2010

Sartre - O PARA-SI

O PARA-SI

O ser

a) A pergunta fundamental.

Em Ser e Tempo, Heidegger retomou a questão do sentido do Ser, que, segundo ele, caiu no esquecimento dos filósofos desde Platão e permaneceu, ao longo dos séculos, na mais completa obscuridade. A inteligibilidade do Ser, disse Heidegger, reveste-se de importância fundamental: nenhuma especulação filosófica será válida se não soubermos preliminarmente do que é que estamos tratando. No entanto, apesar de aparentemente compreendido por todos e dado por evidente, o Ser é algo que está sempre velado. Ninguém ignora o sentido de frases como “o céu é azul” ou “eu sou um homem”. Mas, se nos aprofundarmos, já não saberemos mais explicar o que é esse Ser que está em toda parte. Segundo Pascal (1623-1662), já ao tentarmos uma definição do Ser caímos em um círculo vicioso, “o Ser é...”. Pois, assim, aquilo que queremos definir já se acha contido na sua própria definição.

Por mais longe que possamos chegar nessa pesquisa, como foi o caso do próprio Heidegger, vamos deparar com algo que foge ao nosso saber e do qual só possuímos um entendimento fugidiço. Por isso, Sartre não aborda o Ser do modo como fez Heidegger, procurando desvendá-lo, e sim se restringe a encarar o Ser por seus infinitos modos de manifestação – ou seja, o Ser já qualificado, assim como nos aparece, em forma de coisas (“entes”, na denominação de Heidegger). Portanto, se a filosofia de Heidegger pretende analisar a existência humana que conhecemos apenas como via de acesso a um nível transcendental (a descoberta do mistério do Ser), a de Sartre mantém-se assentada no mundo concreto e na vida cotidiana do homem.

b) “Tudo está em ato”

Sartre, todavia, aceita algumas premissas de Heidegger no tocante ao Ser. Ambos se descartam, em primeiro lugar, da secular ilusão introduzida por Aristóteles (384-322 a.C.) – e retomada por Kant (1724-1804) – de que o Ser é uma substância oculta por trás das coisas que nos aparecem. Isso apenas põe em dúvida a nossa capacidade de conhecer verdadeiramente as coisas, já que, segundo essa teoria, só podemos alcançar o invólucro, o disfarce exterior das coisas, que encobre as “coisas em si”. Eliminando o dualismo aristotélico de “ato-e-potência” e o dualismo kantiano de “fenômeno-e-nômeno”, Sartre segue o principio de Husserl: “Tudo está em ato”. Ou seja: a aparência (fenômeno) das coisas já encerra toda a sua essência (nômeno). Os fenômenos que nos aparecem (os “entes” de Heidegger) são totalmente reveladores de si mesmos e nada contêm de oculto: são exatamente aquilo que mostram ser, e não devemos supor que existem potências ocultas ou essências armazenadas por detrás das aparências que podemos observar. Todos os fenômenos através dos quais se manifesta o Ser (sejam os objetos, as emoções, os conflitos humanos etc) estão em ato e só existem dando provas dessa existência em ato.

Mas isso não quer dizer que o fenômeno por nós percebido se confunda integralmente com esse Ser propriamente dito: o Ser de uma aparição é algo que escapa à simples aparição, não se reduz ao conhecimento que temos de um fenômeno. Não que se trate de uma essência oculta por trás do fenômeno: o que ocorre é que o Ser de um fenômeno não se esgota na aparição ou na série de aparições desse fenômeno. O Ser existe mesmo quando não nos aparece. Escapa às leis da aparição. Por exemplo: o fenômeno-livro que tenho frente aos meus olhos revela todo o Ser desse livro, mas o Ser desse livro não se suprime quando o fenômeno-livro não me aparece. Seria mesmo absurdo supor que meu amigo Pedro deixasse de existir quando não o vejo.**

C) A contingência

Colocado nesses termos, podemos concluir que o Ser é regido pelo princípio de identidade: ele é somente aquilo que é. Como se existisse em repouso, indolentemente, em uma espécie de frouxidão, o Ser nos surge tal qual uma matéria opaca e plena de si mesma, densa e maciça, algo plenamente constituído e sem rachaduras, esgotando-se nesse "não-ser-outra-coisa-senão-si-mesmo". Uno e maciço, o Ser está fechado em si, sendo incapaz de estabelecer qualquer relação consigo mesmo. Devemos compreendê-lo como pura positividade: O Ser é o que é, nada além disso.

O Ser aparece como algo que está aí, sem que saibamos por que, algo cujo existir só podemos entender como absoluta contingência. Contingente no sentido de não necessário: nada parece impor ou justificar o aparecimento do Ser, nenhum sinal nos indica qualquer razão para que o Ser exista e seja o que é, e não de outra maneira. Contingente no sentido de que este Ser - o mundo que existe, e não outro - poderia ser diferente. A existência das coisas acontece desse modo, como poderia acontecer de outro, ou mesmo não acontecer. Não temos onde encontrar uma "causa primeira" para o Ser. Outro ser (digamos, Deus) não poderia tê-lo criado, porque se todo Ser devesse ser criado por outro Ser esse outro Ser deveria igualmente proceder de outro Ser, e assim indefinidamente. Tampou seria concebível que o Ser se criasse a si mesmo, porque, nesse caso, o Ser deveria existir de algum modo antes de se criar, exatamente para criar-se, o que é absurdo. Falta assim ao Ser um impulso original. Como um tecido canceroso que tende a tudo invadir e a tudo ocupar, obsidiante, com um poder de proliferação irreprimível e cego, o Ser sitianos por todos os lados, com o seu existir sem rezão e sem necessidade.

A brusca revelação dessa contingência, da gratuidade e da absurdidade do Ser, produz um sentimento de sufocação que Sartre simbolizou em uma figura literária, a Náusea. Roquentin, o personagem da novela A Náusea (1938), percebe que todas as coisas encaradas com normalidade por simples hábito escoram-se, na verdade, no abstrato mundo dos conceitos e das palavras (essa falsa realidade) para nos dissimular o que de fato são: coisas estranhas, opacas, impenetráveis, ininteligíveis. O que é uma árvore ou uma caneta-tinteiro, o que são as feições de um rosto, por trás dessas designações lingüísticas, se não pura materialidade indeterminada e absurda? Diz  Roquentin: "Ora, nenhum Ser necessário pode explicar a existência: a contingência não é uma ilusão de ótica, uma aparência enganadora que se possa desnudar. É o absoluto e, por conseguinte, a gratuidade perfeita. Tudo é gratuito: esta cidade, este jardim, eu mesmo".

** Sartre contesta assim o idealismo filosófico, segundo o qual o mundo é uma “criação” da nossa mente.

BIBLIOGRAFIA

PERDIGÃO, Paulo. Existência & Liberdade. Uma Introdução à Filosofia de Sartre. Porto Alegre: L&PM. 1995, p.35 a 37.

Capa do DVD

Fundadores do Pensamento no Século XX - Franklin Leopoldo e Silva: Fenomenologia e Existencialismo.
Franklin apresenta de maneira clara os pensamentos de Husserl à Sartre nesta obra. É uma ótima indicação para quem quer compreender o Sujeito do conhecimento de Sartre. Vale a pena!

27 de jun. de 2010

Amor e Necessidade

O amor não é apenas uma troca de necessidades. Esta é a sua forma ilusória. Ele é um sentimento aquém e além da necessidade de senti-lo.
Uma espécie de acordo secreto e inconsciente faz parecer amor o que é momentâneamente ou duradoura troca de necessidades. As carências são tantas e tão grandes, que o atendimento a elas ou a possibilidade de advir proteção ou aceitação, surgem disfarçados de amor, vestidos com sentimentos componentes do repertório do amor. Mas amor não é. É troca de necessidades.

A água de uma fonte existe a despeito da sede de quem vai bebê-la ou, sôfrego, a ela se atira. A água existe; é; flui. É dádiva e entrega. Sempre. Já a sede é uma necessidade, que valoriza a água, é certo, porém, água não é, pois não a cria. A água existe a despeito da sede.
Assim, o amor. Quando existe, é aquém e além da sede (necessidade) de quem o procura. Existe porque brota e vive, inexplicável, mas puro e fluido como a fonte. Ele flui. Ele independe da necessidade alheia. Amor não está. Amor é. Quem está amando não ama. Ama quem é amando.
Por motivos culturais, psicológicos, autodefensivos, porém, o habitual é, primeiro, vislumbrar inconscientemente quem poderá atender às necessidades. É tão poderosa essa força (a de atender às necessidades), que quase sempre vem impregnada de afeto, o mesmo que é componente do amor, e, por isso, com ele se confunde. A necessidade também bebe na fonte do amor. Porém não é fonte, logo amor não é.

Isso de necessidade é tão complexo, que pode ser, até, necessidade de sentir ou receber amor, o que é uma preliminar do amor, porém amor não é. A necessidade de sentir amor e de sentir-se amado por vezes confunde-se com o amor e em seu nome é exercida.
Passada a necessidade, ou alteradas as causas que a geraram, emerge o que cada um é e o que e como sente. Descobre-se então - quase sempre com dor - que o sentimento unificador foi fome, sede, atração, cansaço, medo, gratidão, esperança, ambição, amizade, solução de problemas, espírito de aventura, travessura, ânsia de sair de casa, variáveis importantes, necessidades verdadeiras gritantes e válidas, porém, não, AMOR. Amor é o que, mitigado, não desaparece, aumenta.
O difícil de observar durante a vigência aguda do enigma amoroso é que nossas principais necessidades não aparecem como tal e sim como se fossem características nossas.

Nossas características pessoais e temperamentais são uma espécie de sintoma de necessidades. Supomos ser o próprio temperamento e que nossas características nos definem ou nos constituem, essencialmente. Não! Elas são sintomas das nossas necessidades. Compreendê-lo é evitar o risco de se relacionar apenas em função das necessidades e jamais em função da plenitude de um sentir ativo, generoso, doador, misterioso.
Durante a vigência de um sentimento, saber se é amor ou clamor de alguma necessidade é outro enigma de difícil elucidação.
A diferença, porém, é sutil, mas perceptível : não se sabe quando é necessidade, porém quando é amor sabe-se sempre. O amor pré-existe, post-existe, sub-existe e sobre-existe a todas as provas que com ele fazemos. Resiste até à nossa incapacidade de alimentá-lo com carinho e atenção, seus alimentos. Já a necessidade é menos doadora. Uma vez satisfeita, acaba. Se insatisfeita, reclama e esperneia, porém, logo desiste. Oriundo da necessidade, o sentimento só permanece com esperanças de satisfação.
Insatisfeito, ele acaba por se cansar e cessa. Só as raras pessoas maduras sabem fazer conviver amor e necessidade, não como entidades à parte e antagônicas, mas como importantes paralelas do enigma do querer. Inclusa no sentir, a necessidade não é amor. Dela, porém, em alguns planos, ele se nutre e beneficia, podendo se deteriorar, conforme a dose.

TÁVOLA, Arthur da. Do Amor, ensaio de enigma. 6.ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1983. p. 57,58,59.

* Comprei essa beleza de obra em um sebo.