11 de dez. de 2010

Fragmentos literários: Luxúria

A Casa dos Budas Ditosos

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Algo me diz, falava-lhes eu... Ha-ha-ha-ha! Ha-ha-ha-ha! Ai, meu Deus... Desculpe a crise de riso, mas eu me senti, não sei por quê, meio Lacan, declamando todas aquelas baboseiras desconexas e ininteligíveis, e os crentes tentando decifrá-lo como quem decifra Nostradamus ou a pitonisa de Delfos, quando é claro que ele mesmo não sabia que merda estava falando, suspeito que tomava qualquer coisa para o juízo.
Descia as ventas numas quatro carreirinhas gordas e ia à luta. O que se fala e escreve de merda engalanada na França é inacreditável, eu mesma nunca engoli nada dessa empulhação que confunde ininteligibilidade e chatice com profundidade, nem Lacan, nem Godard, nem Robbe-Grillet, nada dessas merdas, tudo chute e chato, e quem gosta é porque foi chantageado a gostar e, no fundo, se sente burro. Sartre ainda tinha umas coisas, se bem que L'être et le néant é a mãe dele, mas ainda tinha umas coisas, às vezes era arrebatador. Não, não tenho nada que me sentir como Lacan, eu... Ha-ha-ha, desculpe, é dessas crises de riso que a gente não consegue deter. Lacan... Imagine a cena, um maluco furibundo, com o miolo cheio de cocaína ou anfetamina, despejando aquela enxurrada amazônica de non sequiturs esbugalhados em cima de uma platéia que nunca entendeu e até hoje vive tentando comicamente entender e terminando por falar do mesmo jeito e acabando invariavelmente por infelicitar alguém.
Ele não escreveu porque, provavelmente, não conseguia sentar para escrever. Tem gente assim. Eu também, quando ficava ligadona, era assim, não parava quieta, nem na cama. Devia haver um nome para essa doença, ou pelo menos para alguns de seus sintomas. Não a doença dele, que era uma variante neurológica maligna de glossolalia, nada de extraordinário. Eu me refiro à doença dos religiosos dele, os iniciados, os sacerdotes e, naturalmente, os que usam o tal "tempo lógico" - como se o Mestre dos Mestres jamais houvesse proferido alguma coisa de lógico - mais espertamente, só deixando o sofrente falar dois minutos e mandando-o às favas para ter tempo de atender a mais noviços. Lógico para o bolso; é uma. (RIBEIRO, 1999, p.92)

RIBEIRO, João Ubaldo. A Casa dos Budas Ditosos - Luxúria. Rio de Janeiro: Objetiva, 1999.

* Uma indizível obra. Prazer garantido!

8 de dez. de 2010

Garimpo de Notícias

Torcedores poderão comprar "Pedacinhos do Maracanã"

A secretária Márcia Lins revela que pequenas pedras das arquibancadas serão adquiridas como souvenirs, e outras partes serão leiloadas.
"É apenas um souvenir, mas o torcedor que desejar ter uma lembrança material do Maracanã poderá fazê-lo em breve. Isso porque a Secretaria de Turismo, Esporte e Lazer do Rio de Janeiro colocará à venda um lote de cinco mil pequenas pedras que têm sido retiradas durante a demolição das arquibancadas do estádio. O preço, que ainda não foi divulgado, será simbólico."

Fonte: Globo.com - 07/12/2010.

- Aqui você, utilize o dinheiro para comprar um livro (não Caras, jornais baratos e afins) ou um prato de comida para quem está com fome. Mas comprar concreto "simbólico", refugo de obra, tenha dó!

Dilma fará visita ao Complexo do Alemão dia 21

A presidente eleita, Dilma Rousseff, fará uma visita ao Complexo do Alemão, no Rio, no próximo dia 21/12, quando completar um mês do início dos conflitos que levaram à ocupação do local pela polícia e Forças Armadas.

- Aqui, muito pior que comprar pedra é saber que a visita da dona vai virar filme. E que tem um monte de gente que vai ver, além, claro, daqueles que compraram as pedras.

Últimas:

Padre Fábio de Melo lança DVD em show nesta quarta, 08/12 em BH. E ontem, terça, o pai de Michael Jackson lançou um livro sobre o filho, aqui, também, na capital de Minas.

- Desisto. Pode comprar pedra até de crack que é muito melhor, tá?