28 de mai. de 2010

Recaída em A.A.

RENOVE SEU ESFORÇO

"Embora eu saiba como você deve estar magoado e triste depois dessa recaída, por favor não se preocupe com a perda temporária de sua paz interior. O mais calmamente que puder, renove seu esforço no programa de Alcoólicos Anônimos, especialmente nas partes referentes à meditação e à auto-análise".
"Eu poderia também sugerir que você desse uma olhada no excessivo sentimento de culpa que isso causou. Um certo pesar pelo que aconteceu é razoável. Mas sentimento de culpa, não".
"Na verdade, a recaída bem pode ter sido ocasionada por sentimentos de culpa irracionais, por causa de outras falhas chamadas morais. Certamente você deveria pensar nessa possibilidade. Mesmo assim não deveria se censurar por seu fracasso; você só pode ficar penalizado por se recusar a tentar obter coisas melhores".

Bibliografia: Na Opinião do Bill. O Modo de Vida de A.A. (Trechos selecionados do co-fundador de A.A.) Página 68.

26 de mai. de 2010

Alcoologia

Os centros integrados de Alcoologia, as clínicas de Alcoologia e a formação das sociedades de Alcoologia, na maioria dos países da Comunidade Européia, surgem nos anos de 1980 e 1990 como forma de consagração e reconhecimento deste novo enfoque. É de interesse observar que este movimento não teve, até o momento, a mesma repercussão no Brasil ou na América do Sul, apesar do grande intercâmbio técnico-científico entre as duas regiões e das semelhanças quanto às consequências e prejuízos médicos e psicossociais causados pelo álcool. (LIMA, p. 8)

LIMA, José Mauro Braz de. ALCOOLOGIA - O Alcoolismo na Perspectiva da Saúde Pública. MedBook - Editora Científica Ltda. Rio de Janeiro, 2008.

25 de mai. de 2010

Crítica da Razão Pura

Estética transcendental §1
Immanuel Kant (1724 - 1804)

Seja qual for o modo e sejam quais forem os meios pelos quais um conhecimento possa referir-se a objetos, a intuição é o modo como se refere imediatamente aos mesmos e ao qual tende como um meio todo o pensamento. Contudo, esta intuição só acontece na medida em que o objeto nos for dado; a nós homens pelo menos, isto só é por sua vez possível pelo fato do objeto afetar a  mente de certa maneira. A capacidade (receptividade) de obter representações mediante o modo como somos afetados por objetos denomina-se sensibilidade. Portanto, pela sensibilidade nos são dados objetos e apenas ela nos fornece intuições, pelo entendimento, ao invés, os objetos são pensados e dele se originam conceitos. No entanto, por meio de certas características, seja diretamente (directe) ou por desvios (indirecte), todo o pensamento tem por fim que se referir a intuições, em nós portanto à sensibilidade, pois de outro modo nenhum objeto nos pode ser dado.

O efeito de um objeto sobre a capacidade de representação, na medida em que somos afetados pelo mesmo, é sensação. Aquela intuição que se refere ao objeto mediante sensação denomina-se empírica. O objeto indeterminado de uma intuição empírica denomina-se fenômeno.

Denomino matéria do fenômeno aquilo que nele corresponde à sensação; denomino, ao invés, forma do fenômeno aquilo que faz com que o múltiplo do fenômeno possa ser ordenado em certas relações. Já que aquilo unicamente no qual as sensações podem se ordenar e ser postas em certa forma não pode, por sua vez, ser sensação, então a matéria de todo fenômeno nos é dada somente a posteriori, tendo porém a sua forma que estar toda à disposição (a priori) na mente e poder ser por isso considerada separadamente* de toda sensação.

Denomino puras (em sentido transcendental) todas as representações em que não for encontrado nada pertencente à sensação. Consequentemente, a forma pura de intuições sensíveis em geral, na qual todo o múltiplo dos fenômenos é intuído em certas relações, será encontrada a priori na mente. Essa forma pura da sensibilidade também se denomina ela mesma intuição pura. Assim, quando separo da representação de um corpo aquilo que o entendimento pensa a respeito, tal como substância, força, divisibilidade etc, bem como aquilo que pertence à sensação, tal  como impenetrabilidade, dureza, cor etc, para mim ainda resta algo dessa intuição empírica, a saber, extensão e figura. Ambas pertencem à intuição pura, que mesmo sem um objeto real dos sentidos ou da sensação ocorre a priori na mente como uma simples forma da sensibilidade.

* Lembra Platão

24 de mai. de 2010

A união de planos diferentes de realidade (Metaxu)

Entrevista com Fernando Rey (UFMG) sobre Simone Weil.
Por: Gilda Carvalho e Patrícia Fachin , 03/11/2009

“Uma hermenêutica das culturas pensada de modo original e singular”, a obra de Simone Weil deve “ser entendida como uma ampla reflexão sobre as culturas”, sugere Fernando Rey Puente, professor de Filosofia da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, em entrevista concedida, por e-mail, à IHU On-Line. Para ele, a estratégia teórica que está por trás das interpretações da escritora e filósofa francesa “reside em uma dupla operação exegética que ela empreende”. Por um lado, menciona, ela mostra que o mundo grego está inserido no contexto mundial e também recebeu a revelação divina. Por outro, enfatiza, “ela tenta mostrar que o cristianismo é essencialmente filosófico e científico, e que nada foi mais danoso para o mesmo do que a separação que começou a haver entre a ciência e a religião cristã a partir do Renascimento”.

Desde o princípio da vida, a matemática e a mística tiveram um significado especial para Simone Weil, e, na percepção da escritora, revestidas de mística, as ciências poderiam nos levar a Deus. “Ela queria repensar uma nova ciência que pudesse ser ‘lida’ também num plano místico. Uma ciência que estivesse à altura de nossa civilização do trabalho, algo que nem mesmo os gregos, que ela tanto estimava, chegaram a compreender”, acentua.

Fernando Rey Puente é mestre em Filosofia pela Freie Universität Berlin, na Alemanha, e doutor na mesma área pela Universidade Estadual de Campinas – Unicamp. É também autor de livros sobre Schelling, Aristóteles e Simone Weil. Destacamos Simone Weil et la Grèce, (Paris: L’Harmattan, 2007) e As Concepções Antropológicas de Schelling (São Paulo: Loyola, 1997). Recentemente, organizou, em parceria com o Centro de Teologia e Ciências Humanas da PUC-Rio, o Congresso Internacional Simone Weil e a Filosofia, em comemoração ao centenário da filósofa.

Confira a entrevista.

IHU On-Line - Qual a função dos metaxu na composição do pensamento weileano?

Fernando Rey Puente - A noção de metaxu, ou seja, de intermediário, tem um papel fundamental no pensamento de Simone Weil, na medida em que é por meio desses intermediários que é possível estabelecer um contato com o Bem, que é transcendente e inacessível para nós. Como ela postula existir diferentes planos de realidade e que acredita na possibilidade de eles poderem ser “lidos” um detrás do outro, os intermediários são essenciais no seu pensamento, pois são eles que permitem a passagem de um plano para o outro. A matemática, por exemplo, é um desses intermediários para ela, um intermediário de extrema importância.

IHU On-Line - Como a matemática se insere na vida de Simone Weil e como ela influencia seu pensamento?

Fernando Rey Puente - A matemática está presente desde os primórdios da vida de Simone Weil, pois ela cresceu e foi educada ao lado de seu irmão, André Weil, um dos matemáticos mais importantes do século XX. Ela dizia que seu irmão havia sido desde a mais tenra idade um verdadeiro gênio, razão pela qual ela comparava a infância dele à de Pascal. Devido a essa imensa superioridade intelectual que ela acreditava existir entre ela e seu irmão, Simone chegou mesmo a sentir-se alijada do reino do espírito, até que, um dia, ela teve uma espécie de revelação de acordo com a qual compreendeu que ninguém está impossibilitado de adentrar nesse território caso se empenhe verdadeiramente a entrar nele com dedicação e atenção. Desse modo, ela sentiu-se consolada para continuar seus estudos.

Ela entende a matemática principalmente em relação à civilização grega, em particular em relação a Platão e aos pitagóricos. Na sua interpretação dessa civilização que tanto amava, ela não considerava a matemática apenas como uma mera disciplina formal e abstrata, mas também, e, sobretudo, como a verdadeira ciência da natureza e como uma mística. Em outras palavras, a matemática era um metaxu que permitia unir planos diferentes de realidade. Esse duplo aspecto da matemática é, portanto, essencial para que se compreenda a importância que suas reflexões sobre a matemática terá no desenvolvimento de sua obra e de sua relação e apreciação de diversos pensadores, tais como Platão e Descartes , dois dos mais importantes filósofos que influenciaram a sua filosofia.

IHU On-Line - Seria possível afirmar que Simone Weil possuía uma compreensão mística das ciências, em especial da Matemática?

Fernando Rey Puente - Sem dúvida, ela pensava que a matemática e as ciências em geral deveriam ser revestidas de uma dimensão mística, ou seja, elas deveriam nos levar a Deus. Para Weil, a ciência grega nada mais era do que uma ponte para nos conectar a Deus. Mas, cabe ressaltar, ela, de modo algum, tinha um projeto nostálgico de retorno ao mundo grego. O que queria mesmo era repensar uma nova ciência que pudesse ser “lida” também num plano místico. Uma ciência que estivesse à altura de nossa civilização do trabalho, algo que nem mesmo os gregos, que ela tanto estimava, chegaram a compreender. Por isso, enfatiza o trabalho como a especificidade de nossa civilização, e, necessariamente, deveria ser em torno a essa noção de trabalho que uma nova espiritualidade deveria se erguer.

IHU On-Line - Simone Weil tinha duas grandes paixões: o Cristianismo e a cultura ou a tradição grega. Como ela aproxima essas duas forças tão presentes em sua vida?

Fernando Rey Puente - De fato, essa aproximação me parece constituir a verdadeira chave para a compreensão de sua obra, que deve ser entendida como uma ampla reflexão sobre as culturas. Trata-se de uma hermenêutica das culturas pensada de modo original e singular.

A estratégia teórica que está por trás de sua interpretação reside em uma dupla operação exegética que ela empreende: por um lado mostrar que o mundo grego se insere em um contexto mundial no qual todos ou quase todos (à exceção os romanos) os povos da Terra receberam uma revelação divina, inclusive os gregos. Ou seja: contrariamente à ideia tão propalada que na Grécia teria ocorrido algo único – o triunfo da razão autônoma e soberana - que se entende como o nascimento da razão e o abandono do mito, ela pensa que a própria ciência grega nada mais é do que a revelação particular que essa civilização recebeu para mediar a distância por eles sentida entre a transcendência do Bem (exposta em Platão) e a miséria dos homens (apresentada em suas tragédias). Por outro lado, ela tenta mostrar que o cristianismo é essencialmente filosófico e científico, e que nada foi mais danoso para o mesmo do que a separação que começou a haver entre a ciência e a religião cristã a partir do Renascimento. Ora, a identidade entre os conceitos de logos e arithmos permite a ela reler a tradição grega e a tradição cristã em nova chave hermenêutica. Assim, o logos do início do Evangelho de João é lido não como “verbo”, mas sim como “mediação” no sentido matemático. Igualmente, ela pode “ler” no reencontro de Orestes e Antígona o reencontro da alma humana com Cristo. Em suma, ela elabora um complexo método de “leitura” (um conceito central para ela) que a capacita a “ler” diversas analogias entre fatos e culturas aparentemente diversos e desconexos com imensa facilidade e originalidade.

Disponível em: http://www.ihuonline.unisinos.br/

Reinventar-se, sempre.

"O indivíduo se faz na medida em que ele é feito pela situação e pelos acontecimentos. Ao mesmo tempo em que ele se define é definido por outros e nessa mescla de passividade e atividade, precisa reinventar-se sempre. Ele não está feito. O estar-em-situação só tem sentido se o sujeito se faz presente". (ERTHAL, Tereza. Treinamento em Psicoterapia Vivencial)

Ortega - Sentir-me forçado a decidir o que vou ser.
Sartre - O homem é condenado a ser livre.