26 de jun. de 2013

Orgulho nosso de cada dia

Marcas sem máscaras

O filósofo e professor da Unicamp, Leandro karnal, discursou sobre o tema “Orgulho” em um café filosófico promovido pela CPFL em São Paulo. Logo no inicio de sua apresentação, o pensador nos falou sobre a expressão latina “Vanitas vanitatum et omnia vanitas” que, traduzida, significa: “Vaidade das vaidades tudo é vaidade”. Arquitetado pela Religião Cristã como pecado, a vaidade teria começado com o belo, bom e velho Lúcifer.

Este Arcanjo portador da Luz (causa de seu nome) diante do espelho teria se achado mais bonito do que os demais, e , sendo assim, feito nascer a ideia de “um” eu. Quebrando a harmonia e a idealização do Criador sobre a concepção de “nós”, Lúcifer com este comportamento produziu o que passou a ser a mãe da mãe de todos os pecados – a Vaidade.

Com uma belíssima erudição e didática, Karnal nos contou sobre a história do Diabo que habita os espelhos, fez comparações do tema com artistas famosos e suas obras de arte e, na era contemporânea, sobre a utilização de uma toxina, chamada: Botox. Em relação a este último assunto, o também historiador Leandro Karnal, disse o seguinte: “Muito em breve não haverá distinção nas feições, nos semblantes das pessoas ao dizerem ‘eu te amo’ ou ‘socorro, um incêndio’, atestando, assim, que seremos todos orientais”.

Após resumir, grosso modo, a apresentação, eu acrescento: Passar pela existência sem marcas, sem ao menos uma jaça (imperfeição, defeito, mancha etc) por mais discreta que ela seja não é existir em plenitude. Em uma sociedade em que as pessoas estão injetando toxina botulínica de vaca para ficarem "sem" marcas, confesso a vocês que, um simples arranhão conquistado no joelho durante a fase pueril, no futuro, ou melhor, no “entardecer da existência”, na velhice mesmo, será de grande valor. Podem acreditar. Cleiton.

O retorno da pré-história

O retorno da pré-história 

 Entre o que as coisas são de fato e o que existe na nossa mente a respeito delas há um abismo. Quando digo coisas, estou me referindo a você, a árvore, seu bicho de estimação, a colher e, também, as coisas ...impalpáveis. O homem pela via da abstração conseguiu pensar e conceituar este processo, chamado: Conhecimento. Para esclarecer ao leitor sobre a palavra abstração, de forma bastante sintética, pode-se dizer que é o ato de extrair o universal do particular, o geral do específico. A capacidade de identificar características essenciais e generalizar a partir delas é vista, grosso modo, como algo que nos distingue dos animais. Enfim, fazer “juízo”e “leitura” das coisas é típico do homem. Mas, pesquisas recentes apontam que no estado de Minas Gerais existem mais pet shops que padarias, que a população brasileira gasta mais do seu orçamento com cerveja do que com o arroz e feijão e que estamos nos últimos lugares quando a nossa educação é comparada à de outros países. Sendo assim, em breve, seremos, somente, bípedes ébrios cuidando de animais. Cleiton.
 


 

2 de jun. de 2012

Amor: como união, NÃO unidade.

O amor como troca recíproca entre dois seres que preservam a individualidade e a autonomia: A troca recíproca, emotivamente controlada, de atenções e cuidados tem por finalidade o bem do outro como se fosse o seu próprio. Na forma feliz desse tipo de amor, há reciprocidade, há união, mas não unidade.

O Filósofo alemão, Odo Marquard, falou do parentesco etimológico ...entre zwei e Zweifel (dois e dúvida) e insinuou que o elo entre essas palavras vai além da simples aliteração (sons parecidos).

Onde há dois não há certeza. E quando o outro é reconhecido como um "segundo" plenamente independente, soberano - e não uma simples extensão, eco, ferramenta ou empregado trabalhando para mim, o primeiro - a incerteza é reconhecida e aceita.

Ou seja, ser duplo significa consentir em indeterminar o futuro. Boas noites.

27 de mai. de 2012

O SENTIDO DA VIDA É SENTIDO PARA QUEM O VIVE


Para uma compreensão inicial sobre o conhecimento filosófico, o importante é deixar claro que a filosofia é um instrumento de auxílio para a vida de cada um e não definição que pretende encerrar a verdade sobre a vida humana, a vida de todos.
As teorias filosóficas prestam-se para o sujeito filosofar sobre seu mundo, suas explicações, sobre o que interfere na sua existência e, não para ditar verdades e criar "igrejas" e "discípulos" incapazes de pensar por si próprios.

A questão é: a vida humana não tem um sentido único para os homens. Portanto, cabe a cada um encontrar o sentido, o significado de valor naquilo que acredita, naquilo que faz e na maneira como se relaciona com o mundo e com os outros.
Se a vida humana é temporária, filosofar dá a cada instante a possibilidade de viver com intensidade infinita. Filosofar é compreender que, não sendo possível desfazer o já feito, compreender que o que está por fazer, é a única maneira de construir, com dignidade a própria existência.

Entendido isso, não espere que o mundo aceite de "braços abertos" quem exerce, verdadeiramente, a filosofia. Mas, acredita, filosofar e praticar reflexão filosófica no seu cotidiano é um grande passo para tornar-se humano e construir sua própria vida, ao invés de viver a vida e as verdades alheias, e, depois, arrepender-se.

BIBLIOGRAFIA

SILVEIRA, Cristina Angélica. Noções Básicas de Conceitos Filosóficos – Caminhando para uma introdução à filosofia. 2.ed. Belo Horizonte: Publicação Independente. 2003.

20 de abr. de 2012

Quando tomamos consciência, raciocinamos e compreendemos algo novo, uma idéia nova, nós...

Estamos em um território completamente novo em nosso cérebro. E, por estarmos em um território completamente novo, estamos reestruturando o cérebro, literalmente reconectando-o a um novo conceito. Então, em última análise, isso nos modifica por dentro. E se eu mudar minha mente, mudarei minhas escolhas? Se eu mudar minhas escolhas, minha vida mudará? Mas porque não consigo mudar? Em que estou viciado? Irei perder aquilo a que estou quimicamente apegado? A que pessoa, lugar, coisa, época ou acontecimento estou quimicamente apegado, e, não quero perder porque posso ter de vivenciar sua privação química?
Eis o drama humano.

(Fragmento do filme: Quem somos nós?)

14 de abr. de 2012

Aos colegas de profissão (Psicólogos) e "amantes" da reflexão Filosófica.

GÊNIO E NEUROSE

O gênio passa, solitário e dolorido, mas cônscio (ciente, sabedor, responsável) do próprio destino, incompreendido e gigantesco, repugnando os ídolos da multidão, atordoado pelo estrépito (barulho, gritaria) da vida, desatento e inepto (confuso), porque sua alma é toda ouvidos para um canto sem fim que lhe ...sai de dentro e voa ao encontro do infinito.

Estranho sonhador, preso no sagrado tormento da criação, absorvido nos ócios fecundos em que amadurece o invisível trabalho íntimo, sofre com uma paixão em que não é o homem, mas o universo que responde. A imensidade do infinito está próxima e ele não vê a Terra, que atrai todos os olhares e todas as paixões. Vive de lutas titânicas. Pede à vida a realização do ideal, sem possibilidade de concórdia com a mediocridade, aspirado como um turbilhão pela ânsia da evolução.

Conhece o medo de quem se debruça sobre o abismo dos grandes mistérios, a vertigem das grandes altitudes, a amargurada solidão da alma diante da inconsciência humana; conhece a luta atroz contra a animalidade que retorna, as imensas fadigas e os perigos que aguardam os que querem alçar-se ao vôo. Os cegos dizem: é louco! Sente-se esmagado pelo inútil peso do numero; compreende a baixeza de quem não o compreende. Mesmo a ciência, filha da mentalidade utilitária da mediocridade incompetente, mas ávida de julgar, sentencia: neurose!

Mas o gênio não pode descer; sente seu Eu gritar e não pode calar. Ele não é um corpo apenas, como os outros, é, acima de tudo, uma alma. O espírito que dormita (cochila) em tantos e deve nascer, aparece nele como um gigante, evidente, troveja e se impõe; quem poderá compreender suas lutas titânicas? A humanidade caminha lenta, debaixo do esforço da própria evolução; ele está à frente e carrega toda a responsabilidade, arrasta o peso de todos. A massa diz: anormal; a ciência fala: neurose. (Páginas 385,386)

UBALDI, Pietro. A Grande Síntese. 21.ed. Campos dos Goytacazes, RJ: Fraternidade Francisco de Assis, 2001.

Ps. E você, o que acha?

17 de mar. de 2012

Aprender a pensar é descobrir o olhar

Márcia Tiburi, Filósofa 

A diferença entre ver e olhar é tanto uma distinção semântica que se torna importante em nossos sofisticados jogos de linguagem tomados da tarefa de compreender a condição humana – e, nela, especialmente as artes –, quanto um lugar comum de nossa experiência. Basta pensar um pouco e a diferença das palavras, uma diferença de significantes, pode revelar uma diferença em nossos gestos, ações e comportamentos. Nossa cultura visual é vasta e rica, entretanto, estamos submetidos a um mundo de imagens que muitas vezes não entendemos e, por isso, podemos dizer que vemos e não vemos, olhamos e não olhamos. O tema ver-olhar – antigo como a filosofia e a arte – torna- se cada vez mais fundamental no mundo das artes e estas o território por excelência de seu exercício. Mas se as artes nos ensinam a ver – olhar, é porque nos possibilitam camuflagens e ocultamentos. Só podemos ver quando aprendemos que algo não está à mostra e podemos sabê-lo. Portanto, para ver olhar, é preciso pensar.

Ver está implicado ao sentido físico da visão. Costumamos, todavia, usar a expressão olhar para afirmar uma outra complexidade do ver. Quando chamo alguém para olhar algo espero dele uma atenção estética, demorada e contemplativa, enquanto ao esperar que alguém veja algo, a expectativa se dirige à visualização, ainda que curiosa, sem que se espere dele o aspecto contemplativo. Ver é reto, olhar é sinuoso. Ver é sintético, olhar é analítico. Ver é imediato, olhar é mediado. A imediaticidade do ver torna-o um evento objetivo. Vê-se um fantasma, mas não se olha um fantasma. Vemos televisão, enquanto olhamos uma paisagem, uma pintura.

A lentidão é do olhar, a rapidez é própria ao ver. O olhar é feito de mediações próprias à temporalidade. Ele sempre se dá no tempo, mesmo que nos remeta a um além do tempo. Ver, todavia, não nos dá a medida de nenhuma temporalidade, tal o modo instantâneo com que o realizamos. Ver não nos faz pensar, ver nos choca ou nem sequer nos atinge. As mediações do olhar, por sua vez, colocam-no no registro do corpo: no olhar – ao olhar - vejo algo, mas já vitimado por tudo o que atrapalha minha atenção retirando-a da espécie sintética do ver e registrando- a num gesto analítico que me faz passear por entre estilhaços e fragmentos a compor – em algum momento – um todo. O olhar mostra que não é fácil ver e que é preciso ver, ainda que pareça impossível, pois no olhar o objeto visto aparece em seus estilhaços de ser e só com muito custo é que se recupera para ele a síntese que nos possibilita reconstruir o objeto. É como se depois de ver fosse necessário olhar, para então, novamente ver. Há, assim, uma dinâmica, um movimento - podemos dizer - um ritmo em um processo de olhar-ver. Ver e olhar se complementam, são dois movimentos do mesmo gesto que envolve sensibilidade e atenção.

O olhar diz-nos que não temos o objeto e, todavia, nos dispõe no esforço de reconstituí-lo. O olhar nos faz perder o objeto que visto parecia capturado. Para que reconstituí-lo? Para realmente captura-lo. Mas essa captura que se dá no olhar é dialética: perder e reencontrar são os momentos tensos no jogo da visão. Há, entretanto, ainda outro motivo para buscar reconstruir o objeto do olhar: para não perder além do objeto, eu mesmo, que nasço, como sujeito, do objeto que contemplo – construo enquanto contemplo. Olhar é também uma questão de sobrevivência. Ver, por sua vez, nos liberta de saber e pode nos libertar de ser. Se o olhar precisa do pensamento e ver abdica dele, podemos dizer que o sujeito que olha existe, enquanto que o sujeito que vê, não necessariamente existe. Penso, logo existo: olho, logo existo. Eis uma formulação para nosso problema.

Mas se não existo pelo ver, não estou implicado por ele nem à vida, nem à morte. Ver nos distancia da morte, olhar nos relaciona a ela. O saber que advém do olhar é sempre uma informação sobre a morte. A morte é a imagem. A imagem é, antes, a morte. Ver não me diz nada sobre a morte, é apenas um primeiro momento. Ver é um nascimento, é primeiro. O olhar é a ruminação do ver: sua experiência alongada no tempo e no espaço e que, por isso, nos instaura em outra consistência de ser. Por isso, nossa cultura hipervisual dirige-se ao avanço das tecnologias do ver, mas não do olhar. É natural que venhamos a desenvolver uma relação de mercadoria com os objetos visualizáveis e visíveis. O olhar implica, de sua parte, o invisível do objeto: a coisa. Ele nos lança na experiência metafísica. Desarvoranos a perspectiva, perturba-nos. Por isso o evitamos. Todavia, ainda que a mediação implicada no olhar faça dele um acontecimento esparso, pois o olhar exige que se passeie na imagem e esse passear na imagem traça a correspondência ao que não é visto, é o olhar que nos devolve ao objeto – mas não nos devolve o objeto - não sem antes dar-nos sua presença angustiada.

O olhar está, em se tratando do uso filosófico do conceito, ligado à contemplação, termo que usamos para traduzir a expressão Theorein, o ato do pensamento de teor contemplativo, ou seja, o pensar que se dá no gesto primeiro da atenção às coisas até a visão das idéias tal como se vê na filosofia platônica. Paul Valéry disse que uma obra de arte deveria nos ensinar que não vimos aquilo que vemos. Que ver é não ver. Dirá Lacan: ver é perder. Perder algo do objeto, algo do que contemplamos, por que jamais podemos contemplar o todo. O que se mostra só se mostra por que não o vemos. Neste processo está implicado o que podemos chamar o silêncio da visão: abrimo-nos à experiência do olhar no momento em que o objeto nos impede de ver. Uma obra de arte não nos deixa ver. Ela nos faz pensar. Então, olhamos para ela e vemos.

Artigo originalmente publicado pelo Jornal do Margs, edição 103 (setembro/outubro).