2 de jul. de 2010

Morte: um fato contingente

L’être et le néant
O ser e o nada

Assim, devemos concluir, contra Heidegger, que a morte, longe de ser minha possibilidade própria, é um fato contingente que, enquanto tal, escapa-me por princípio e pertence originariamente à minha facticidade. Eu não poderia descobrir minha morte, nem esperá-la, nem tomar uma atitude com relação a ela, visto ser aquilo que se revela como o irrevelável, aquilo que desarma toda as esperas e que penetra em todas as atitudes, particularmente as que adotamos a seu respeito, para transformá-las em condutas exteriorizadas e coaguladas, cujo sentido é para sempre confiado a outros que não nós mesmos. A morte é um puro fato, como o nascimento; chega-nos de fora e nos transforma em lado de fora puro. No fundo, não se distingue em absoluto do nascimento, e é tal identidade entre nascimento e morte que denominamos facticidade.

SARTRE, Jean-Paul. O ser e o nada: ensaio de ontologia fenomenológica. 4. ed. Petrópolis: Editora Vozes, 1997. p. 668



Jean-Paul Sartre
(1905-1980)

(+) Um fragmento da obra de Sartre, A Náusea, que ilustra o termo Facticidade foi postado dia 23/06.

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