2 de jun. de 2010

Razão e Fé. As razões necessárias.

Época em que a Razão e a andavam juntas. E houveram vários colaboradores com uma capacidade belíssima de reflexão e questionamento.
Confira.

Razão e Fé. As razões necessárias.
Santo Anselmo de Canterbury (1033/34 – 1109)

Se lermos suas palavras com atenção, poderemos notar que o tema das “razões necessárias” aparece sempre cuidadosamente matizado. Com efeito, dizia: “Se neste escrito adianto alguma coisa que não se encontre demonstrada por uma autoridade maior (Sagrada Escritura, Padres), desejo que se pense que, embora apresente a conclusão, por causa das razões que me parecem certas, como sendo necessária [quasi necessarium concludatur], esta não deverá ser considerada como absolutamente necessária [omnino necessarium], mas tão somente como podendo parecê-lo em sua relação com os princípios estabelecidos.*

A aplicação prática dessa cautela metodológica encontra sua máxima expressão nos capítulos 64 e 65 do Monologion, ao final da exposição sobre o mistério trinitário. Estas foram as suas palavras: “Eu penso que o pesquisador de uma coisa incompreensível se conforma se, por meio do pensamento, consegue conhecer certíssimamente que essa coisa existe, embora não possa entender por meio do intelecto como essa sua existência é.**
Já se vê, portanto, que as razões necessárias não pretendem explicar o mistério; são razões da existência do mistério. O mistério permanece inefável em si mesmo. Contudo, seriam as razões necessárias somente argumentos de conveniência?

Com tão sutil distinção entre a existência do mistério e o “como” da sua existência, Santo Anselmo pretendia escapar da armadilha racionalista, na qual caíam desde a Antiguidade cristã os movimentos gnósticos.

(...)

* Monologion, cap.1.
** Ibidem, cap.64.

SARANYANA, Josep-Ignasi. A Filosofia Medieval: Das origens patrísticas à escolástica barroca. São Paulo: Instituto Brasileiro de Filosofia e Ciência "Raimundo Lúlio" (Ramon Llull), 2006, pag. 159,160.

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