12 de jul. de 2010

História da Filosofia: O Existencialismo

7. - O Existencialismo

Heidegger.

"Ao defrontar-se com o existencialismo, a primeira pergunta que todos se formulam logicamente, é esta: estamos realmente diante de uma filosofia no sentido rigoroso do termo? E como a resposta depende de uma definição, todos se preocupam antes de mais nada com a definição pelo menos descritiva do existencialismo, para examinar-lhe os termos, o sentido e a extensão. Ora, os mestres do existencialismo, a evolução de suas idéias, a natureza dos seus princípios, impõem a seguinte conclusão: o existencialismo tem historicamente, e pode ter especulativamente, numerosas e até as mais variadas definições, porque é um conjunto de idéias em ebulição, de idéias que ainda não amadureceram". Acertadamente foi dito, portanto, que o existencialismo é "uma posição, uma situação, um fundo de cenário, mais do que uma filosofia" (72). O existencialismo tomou, no entanto, uma voga tão extraordinária em nossos dias (73) que não é possível silenciá-lo numa história da filosofia. Podemos dizer que o existencialismo é o grito do homem moderno, do pensador desiludido e amargurado pelas trágicas conseqüências da filosofia imanentista, destruidora do ser e de Deus. Neste fundo de subjetividade o pensador é atormentado pela nostalgia da verdade, da realidade, da existência e de Deus; o existencialismo é precisamente a expressão - como disse Maritain - "do grito da subjetividade para o seu Deus".

Com o idealismo absoluto - que teve no atualismo italiano de Gentile a sua extrema e lógica evolução - o pensamento moderno realizou integralmente o seu desenvolvimento imanentista. O existencialismo contemporâneo - o movimento vasto, profundo e significativo da nossa civilização - representa uma reação e uma crítica ao racionalismo e ao otimismo imanentistas do idealismo absoluto. É uma demolição do racionalismo idealista, enquanto enucleia despreocupadamente todos os elementos negativos, contingentes e irracionais, da experiência (humana), que, "absolutizada" imanentisticamente, tornar-se contraditória. Não é, porém, uma demolição do imanentismo, enquanto o existencialismo - pelo menos em suas posições mais significativas - pretende manter-se nos limites da experiência. E, portanto, deve logicamente finalizar no irracionalismo e no pessimismo.

Certamente o existencialismo moderno surge e se afirma filosoficamente como crítica ao racionalismo moderno; essa crítica foi acelerada e levada ao seu auge, historicamente, por duas guerras mundiais, que solaparam as utopias humanista-imanentistas de progresso e civilização, inspiradas nas ideologias do século passado. O existencialismo, porém, atinge e exprime elementos cósmicos, aspectos universais do mundo e da vida em sua negatividade, segundo a grande tradição moralista, que se pode considerar aberta com Buda, e que o existencialismo moderno levou a um grau de amadurecimento antes desconhecido.

Como as grandes orientações culturais do pensamento moderno, o existencialismo tem alcance europeu e mundial. Tem, porém, seu centro constitutivo na Alemanha, assim como o idealismo absoluto, de que representa uma crítica. É, portanto, uma crítica ao espírito do pensamento moderno kantiano e hegeliano. Também a França tem um centro difusor de existencialismo, e proporcionou outrossim uma contribuição fundamental ao pensamento moderno como o racionalismo fenomenista, que tem na França o seu fundador (Descartes), e que juntamente com o empirismo fenomenista (inglês), representa um dos constitutivos essenciais da síntese idealista kantiana.

O existencialismo alemão apresenta, fundamentalmente, um caráter imanentista, sobre a linha central do pensamento moderno; e, portanto, apresenta um caráter negativo, irracionalista e pessimista como o demonstra a filosofia de Heidegger, o maior expoente do existencialismo alemão, europeu e mundial. O existencialismo francês, ao contrário, representa, antes, um caráter transcendental, de conformidade com a tradição espiritualista francesa - ainda que a evasão da existência seja, geralmente, operada por motivos exigenciais, postuladores, fideístas, os quais estão fora do campo especulativo.

BIBLIOGRAFIA

PADOVANI, Umberto; CASTAGNOLA, Luís. História da Filosofia. 12.ed. São Paulo: Edições Melhoramentos, 1978. p.484,485.

Imanente. adj. 1) Inerente: intrínseco 2) Permanente: constante, ininterrupto.

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