11 de jul. de 2010

Mas que importa: Eu Sou Livre.

"O enredo de As moscas se baseia numa lenda grega: Orestes - filho de Agamêmnon, rei de Argos - volta do exílio; seu objetivo é vingar a morte do pai, assassinado 15 anos antes por sua mãe, Clitemnestra, e pelo amante desta, Egisto - que após o crime enviaram-no para o degredo e transformaram sua irmã Electra em escrava".
Sartre utiliza desse conto, para deixar os seus "comentários" sobre a ocupação Nazista na França.

(...)

Orestes: É minha única chance. Electra, não podes me recusar essa chance. Compreenda-me: quero ser um homem de algum lugar, um homem entre homens. Olha: um escravo que passa, cansado e resmungando, e carregando seu pesado fardo, com os joelhos trêmulos e olhando para seus pés, para evitar cair, ele está dentro de sua cidade, como uma folha na folhagem, como a árvore na floresta, Argos está ao redor dele, pesada e quente, plena de si mesma; eu quero ser esse escravo, Electra, quero estender a cidade em volta de mim e me enrolar nela como se fosse um manto. Eu não vou embora. (SARTRE, 2005, p.59)

Orestes: É tua fraqueza que as faz fortes. Reparaste que a mim elas nada ousam dizer? Escuta: um horror sem nome se pôs sobre ti e nos separa. Mas que é que tu viveste que eu não tenha vivido? Os gemidos de minha mãe, acreditas que meus ouvidos cessarão de os ouvir? E seus olhos enormes – dois oceanos agitados – em seu rosto branco feito giz, acreditas que meus olhos deixarão de vê-los? E a angústia que te devora, acreditas que ela cessará de me roer? Mas que importa: eu sou livre. Para além da angústia e das lembranças. Livre. E de acordo comigo mesmo. Não deves odiar a ti mesma, Electra. Dá-me a mão: não te abandonarei nunca. (SARTRE, 2005, p.94)

Orestes: Não sou nem senhor nem escravo, Júpiter. Eu sou minha liberdade! Assim que me criaste eu deixei de te pertencer. (SARTRE, 2005, p.103)

BIBLIOGRAFIA

SARTRE, Jean-Paul. As Moscas - Teatro. Trad. Caio Liudvik. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2005.

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