29 de jul. de 2010

Filosofia Pré-Socrática

O texto abaixo é uma adaptação para uma apostila de Filosofia. Refere-se ao capítulo 4, do livro "O mundo de Sofia" de Jostein Gaarder, publicado pela editora Companhia das Letras, em 1995.

Os primeiros filósofos (os pré-socráticos), foram chamados "filósofos da natureza", porque se interessavam em saber seu funcionamento, seus processos e o porquê deles. E para responder, eles partiram do que já conheciam e podiam sentir (percepção → apreensão → compreensão). Todos eles partiram da seguinte certeza: "tudo o que existe não partiu do nada, pois o nada não existe".
O que instigava a esses pensadores era, por exemplo, saber se e como a água podia se transformar em peixes vivos, ou como a terra sem vida podia se transformar em árvores frondosas ou em lindas flores. E, o mais importante, como uma criança podia sair do corpo biológico da mãe.
Para todos eles havia uma certa "constância" nas transformações da natureza. O que eles procuravam era como essas transformações eram possíveis. Eles, então, achavam que deveria existir uma determinada "substância básica", que causava todas as transformações da natureza.
Então, podemos afirmar que o projeto dos pré-socráticos englobava questões relacionadas à substância básica por detrás das transformações ocorridas na natureza.
Para nós, hoje, não é muito importante saber quais as respostas dadas por cada um desses pensadores. O que deve nos interessar é porque, no século VI a.C., alguns seres humanos, mesmo vivendo numa sociedade mítica e politeísta, faziam esses tipos de perguntas e tentavam buscar respostas. Eles queriam entender os fenômenos naturais sem recorrer às explicações míticas.

Foi assim que a filosofia libertou-se da religião.
Por isso, é possível afirmar que os pré-socráticos deram os primeiros passos na direção de uma forma "científica" de pensar.
A maior parte do que eles escreveram foi perdido; ou queimado pela igreja nos séculos seguintes. Mas sabemos também, que Aristóteles reescreveu muito do que os pré-socráticos afirmavam além de acrescentar algumas de suas próprias verdades.
O primeiro pré-socrático foi Tales (que morava em Mileto: uma colônia grega na Ásia menor), que considerava a água a tal "substância básica" que dá origem a todas as coisas que existem. Não podemos afirmar, mas talvez, ele tenha imaginado a terra cheia de pequenos e invisíveis germens da vida.

Para Anaxímenes, também de Mileto, a água era o ar condensado. E, quando chove, o ar ficava tão "comprimido" que se transformaria em água novamente. E, se essa água transformada fosse mais comprimida ainda, transformar-se-ia em terra. E, finalmente, o fogo era o ar rarefeito. Então, temos que, para Anaxímenes, a terra, a água e o fogo surgiam do ar.
Anaximandro que também viveu em Mileto, achava que nosso mundo era apenas um dos muitos mundos que surgem de alguma coisa e se dissolvem nessa alguma coisa chamada infinito. Ele foi um dos poucos pré-socráticos que não imaginou a tal da "substância básica". Para ele, a criação que é finita, é resultado (antes e depois de seu aparecimento) de alguma coisa infinita. Ele foi humilde o suficiente para afirmar que o ser humano não tinha capacidade, nem inteligência e menos ainda, linguagem que pudesse definir esse "infinito".

Vários outros pré-socráticos surgiram depois de Tales, Anaxímenes e Anaximandro. Mas vamos apenas, citar um pouco da teoria daqueles que nos chamaram mais a atenção. O pré-socrático mais conhecido é Parmênides, que viveu em Eléia (sua da Itália) entre os anos 540 a 480 a.C. Para ele, tudo o que existe sempre existiu. Isso porque nada surge do nada. Mas ele discordava dos pré-socráticos de Mileto e muitos que escreveram antes dele. Ele foi diferente e, talvez, por isso, o mais interessante de ser estudado. Repito, literalmente, suas palavras: "Nada pode surgir do nada. E, nada que existe pode se transformar em nada".
Assim, ele considerava totalmente impossível qualquer transformação real das coisas. Nada pode se transformar em algo diferente do que já é.
É óbvio que Parmênides sabia e via as transformações que ocorriam nas coisas da natureza. Mas ele não conseguia harmonizar o que via com o que sua razão lhe dizia. E quando era forçado a decidir se confiava nos sentidos ou, na razão, decidia-se pela razão.

Então, são três as principais afirmações de Parmênides: 1ª) Qualquer mudança é só exterior; 2ª) A essência do ser é imutável e 3ª) O ser é o pensar.
Na mesma época de Parmênides viveu Heráclito, em Éfeso, na Ásia Menor. Para ele, as constantes transformações nos seres e na natureza eram justamente a característica mais fundamental da natureza. Tudo flui, dizia Heráclito. Tudo está em movimento e nada dura para sempre. Além disso, todas as coisas que existem no mundo têm o seu oposto. Por exemplo: doença/saúde; fome/comida; guerra/paz... Sem a constante interação entre os opostos, o mundo deixaria de existir. E, é a complementação (resultado dos opostos) que é a "substância básica" que dá origem ao todo. Deus, para ele, está no comando de todas as transformações que podemos perceber com nossos sentidos humanos nas coisas da natureza e nos seres humanos.
Podemos dizer que Heráclito e Parmênides são os filósofos pré-socráticos que, nas suas teorias, mais se confrontam.

Mas, depois deles, veio Empédocles, que afirmava que aqueles dois pensadores tinham mostrado ao mundo, que não existia uma "substância básica" inquestionável da qual é originado tudo o que existe. Para Empédocles, o abismo entre o que nossa razão nos diz e que nossos sentidos percebe é intransponível. Empédocles chegou à conclusão de que a noção de "substância básica", tirado de um dos quatro elementos (água, ar, fogo e terra) não existe. Esses elementos são, como ele afirmava, apenas raízes do que existe na natureza. Mas eles (apesar de qualquer transformação) continuam a ser o que são. Portanto, não é certo dizer que tudo muda. Basicamente, nada se altera. O que acontece é que esses quatro elementos se combinam e depois voltam a se separar para então combinarem novamente. Para Empédocles o que une as coisas é o amor e o que as separa é a disputa.

Ele também afirmava (e isso vale até hoje) que é preciso diferenciar entre o elemento e a força que faz esse elemento agir. Sabemos que a ciência moderna acredita poder explicar todos os processos da natureza, através da interação entre os diferentes elementos e algumas poucas forças naturais que os movimentam.
Enfim, todos os filósofos pré-socráticos tentaram fazer uma cosmologia em contraposição à cosmogonia feita pela mitologia grega.

Lembrando:

Cosmogonia = "COSMOS" = ordem da natureza ou do universo.
"GONIA" = Nascimento (Para os gregos daquela época, nascimento era, sempre, obra de algum deus).

Cosmologia = "COSMOS" = ordem da natureza ou do universo.
"LOGIA" = Explicação dada pela razão (percepção → apreensão → compreensão).

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