30 de jul. de 2010

Qual o sentido da vida?

Qual o sentido da vida?

Flávio Gikovate*

Não sabemos de onde viemos...

Apesar de a vida ter aspectos fascinantes e extremamente interessantes, ela se alicerça em algumas peculiaridades muito difíceis de ser toleradas. Uma dessas características diz respeito a uma curiosidade que começamos a ter lá pelos sete anos e que, como regra, jamais nos abandona. Quando entendemos mais as peculiaridades da vida, sentimos uma brutal angústia pelo fato de não sabermos exatamente de onde viemos nem para onde vamos.

Existem dúvidas enormes a respeito da origem da vida no planeta Terra; hipóteses religiosas e cientificas tentam dar explicações adequadas que apaziguem nosso espírito.

Nós não fomos civilizados para viver e conviver com a dúvida. Nossa razão busca explicações rápidas e, às vezes, pouco lógicas, que tentam nos acalmar sobre essa questão.
Existe um número apreciável de hipóteses religiosas que tentam explicar nossa origem; todas elas pressupõem a existência de um criador, uma divindade muito mais sábia e forte que nos gerou com algum intuito nem sempre muito claro e fácil de ser percebido. Essa é a teoria criacionista. Assim, somos "filhos" desse criador e temos que agir de acordo com os mandamentos que ele nos legou por meio dos seus porta-vozes, responsáveis pelos textos chamados "sagrados". Estes textos tratam de aspectos morais de nosso dia-a-dia, e, se seguíssemos essas ordens, seríamos elevados a uma posição bem mais próxima desse Deus.

Na hipótese científica, do ponto de vista materialista, o início da vida humana aconteceu por acaso. Por meio de reações químicas e processos biológicos que se sucederam ao longo de milhões de anos. A existência, ainda viva, no planeta de nossos ancestrais “confirmaria” a teoria evolucionista. No ponto de vista da ciência, houve uma seqüência evolutiva, culminando com a nossa aparição. Nessa forma de raciocinar não existe um criador. Os seres humanos na terra são apenas um produto final de uma série de coincidências.

Essa teoria foi incorporada pela maioria das pessoas que tiveram uma determinada educação escolar. Talvez uma explicação para adotarmos a teoria evolucionista, ao invés, da teoria criacionista, esteja no fato dela ser mais triste e mais difícil de ser tolerada. Isso porque, pensar que a hipótese mais amarga é a mais provável, testa nossa “capacidade” de viver com as dores das “falhas das racionalidades”. Acreditar na existência de um criador alivia a dor de não saber-mos exatamente de onde viemos; logo, essa hipótese passa a ser vista como menos provável. Lembre-se: “a vida nesse mundo é um vale de lágrimas”.
A rejeição pela teoria criacionista é reforçada pela análise dos textos sagrados, por exemplo: a Bíblia, o Alcorão, a Torá. Todos esses textos colocam Deus com características muito humanas, e isso é uma forte razão para as críticas da ciência.

A verdade é que nenhuma dessas duas teorias é consistente o suficiente para nelas acreditarmos, por isso, a pergunta “De onde viemos?” continua. Foi apenas desprezada e esquecida pelo mundo acadêmico, porque essa dúvida original da existência humana é muito penosa.
Acredito que: o “jogo da vida” nos oferece uma certeza indiscutível: não sabemos a nossa origem! Somos filhos da dúvida, somos filhos do mistério. Isso é triste apenas, num primeiro momento. Mas, num segundo momento, é fantástico, porque é a origem da nossa liberdade; nossa possibilidade e dever de escolha. É a certeza de que cada um de nós pode e deve determinar a rota de sua existência. Assim, vivemos numa aventura, numa empreitada onde tudo pode acontecer. Cada dia é “único”, especial e nele há sempre o espaço para o inesperado.

* Este texto é uma adaptação para uma apostila de Filosofia. Refere-se ao capítulo 5, do livro "Os sentidos da Vida" de Flávio Gikovate, publicado pela editora Moderna, em 1998.

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